Talvez esta seja a época histórica em que mais se afirma e repete a consciência de se viver a própria vida livremente, sem ligar para o que os outros pensem ou digam.
Contraditoriamente, também me parece ser a época em que mais se tem dado importância à opinião alheia, tamanha a batalha discursiva por sua conquista e subjugação.
Não me atreveria a dar diagnósticos sobre o paradoxo, mas entendo que um pouco disso provém de um equívoco de origem. Não ligar para os outros é muito difícil, entes sociais que somos. No extremo, até mesmo perigoso, por tênue a fronteira entre sã individualidade e mesquinho egoísmo.
Muito difícil porque constituir esta fortaleza interior demanda um desprendimento absurdo. Tanto que não é incomum se passar da defesa para o ataque, em uma tentativa desesperada, invariavelmente bélica, de converter o alheio em um reflexo condicionado de si mesmo. A tolerância passa então a ser não mais a complexa neutralização de preconceitos arraigados, mas o grito de guerra de cruzadas sem fim - no tempo e na meta.
Este, pois, o erro de origem: confundir uma peregrinação necessariamente interior com sangrentas batalhas lançadas contra os infiéis.
De modo que, arduíssima empreitada, o caminho de não ligar para a opinião alheia passa pela aceitação não do outro, mas de si mesmo. Dela é que nasce a fé e a força interiores que esteiam as escolhas que fazemos. Não se preocupar com o que dizem não significa calar na marra o mundo à volta, mas ouvir o que sussurra a voz de dentro e, serenamente, nela crer.
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