quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Imensidão


Regozija o passarinho
Ao notar que a solidão
Não se aplica à imensidão
Onde bate asa sozinho

Verão


Se cada grão de areia achasse que não importa, não haveria praia.
Se cada fibra de pano achasse que não agrega, não haveria saia.
Se cada axônio de aço achasse que não conduz, não haveria idéia.
Se cada par de pupila achasse que não é luz, não haveria platéia.
Se cada gesto de amor achasse que não redime, não haveria perdão.
Se cada tom de andorinha achasse que não encanta, não haveria verão.

Verão, verão que um homem em sete bilhões vale por toda a humanidade.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Mais que a pior das palavras


Um dia, fui reprimido duramente por palavras consideradas ofensivas. Minha ingenuidade me traiu e fez soar de forma agressiva o que era simples brincadeira. O que, dito em outro contexto, por outra pessoa, em outro momento, certamente seria interpretado com risinhos marotos e condescendência.

Daí em diante, não fui mais o mesmo. Alguma coisa mudou dentro de mim. Muitos impulsos contive na ilusão patife de que fosse, possivelmente, mais rude e grosseiro do que pensava ser. Confundi afobação com espontaneidade. Fechei-me ainda mais do que o clássico lacre vedava. Tragou-me o próprio vácuo do recipiente onde me encerrei.

Alguns anos depois, constatei a invalidez do meu degredo. Inquiri-me: por que o medo? Do que o medo? Não se enganem: sempre soube do que escapo. Sempre soube a razão do que faço. Expresso-me mal. Não inquiri a mim, mas àquela a quem tanto doeram as supostas ofensas contidas na palavra.

E a resposta foi silêncio. Vazio rascante de termos. Não sei se era TPM, se era prólogo de um plano perfeito, se era a tardia visão do seu jeito de ser. Sei que o silêncio dói mais que a pior das palavras. Magoa mais que a ressaca do mar. Fere fundo como fundo escava, no peito, um grande amor.

O caminho do telencéfalo às cordas vocais é um mistério repleto de curvas. Fácil despencar e se perder, ribanceira abaixo, onde a luz não alcança, o ar não vibra e o eco mente, descaradamente, ao seu autor.

Ainda me pergunto: de que cor seriam os seus olhos?