sábado, 27 de setembro de 2008

Afinidade


Afinidade

Conhecer seu lado errado
Um pouco desajeitado
Rir das suas manias
Deitar minhas mãos frias
Na sua pele quente

Ouvi-la insistentemente
Teimar que tem a razão
Inventar-lhe novos sons
Esboçar-lhe níveos tons
Massagear seu cabelo

Contemplar com máximo zelo
Cada pedaço de seu ser
Em seu corpo compreender
A essência do paraíso
O movimento preciso

Caminhar em um dia nublado
Só com você do meu lado
Mais ninguém
Pois se mais gente tem
É como se não houvesse

Rezar ao mar uma prece
Sentir o beijo d'água na areia
Enredar-me em sua teia
Fazer-lhe um carinho nas costas
Achar em você as respostas

O porquê das verdes encostas
Pensar na cara linda do meu filho
Se ele herdar no rosto esse seu brilho
Prender o pingente em seu pescoço
Esquecer para sempre o almoço

Alimentar-me apenas da sua voz
Dormir e sonhar, após
E o sonho ser tão real
E a realidade tão carnal
Que o limite seja um detalhe

Uma estreita e ingênua calhe
Folhas secas sobre o chão
E nossas almas dando-se as mãos
Suspensas sobre a paisagem
Eternas nesta viagem

Allan - 18/08/08

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Mantra


1. Não adie por muito tempo. Se tiver que fazer, faça. Se tiver de dizer, diga. Depois, quando não impossível, fica muito difícil. Depois, tudo mudou. As coisas perdem o efeito. As palavras entram por um ouvido e saem pelo outro.

2. Se não puder acontecer, melhor se convencer o quanto antes. As alternativas são infinitas. Não reconhecer é quase um egoísmo. Não vale a pena levantar da cama sentindo um vazio no peito por causa de um sonho que devia ser verdade há muito tempo.

3. Procure sentido na confusão. Ninguém vê muito além do próprio nariz, não. Todo mundo tem uma razão de ser ou de não ser. Medo, fraqueza, falta de confiança... Intuição. Deixe que a expressão supere a aparência, a sua e a dos outros.

*

Aceitar

Aceitar
Que esse labirinto
Jamais será extinto
Não existe saída
É assim, a vida...

Aceitar
Que certas coisas não são mesmo pra ser
Nunca vão acontecer
Comigo, com o mundo, com você
O que não impede de sofrer

Aceitar
Que o tempo não corre
Apesar da vontade
O tempo não pára
Apesar da saudade

Aceitar
Que é nossa, a fragilidade,
Não uma distorção da verdade
Que é necessário ser forte
Independente da sorte

Aceitar
Que não tem muito segredo além disso
A despeito do rebuliço
Vigente em nossa cabeça
Aconteça o que aconteça

Aceitar
Que deve haver um motivo
Pelo qual sobrevivo
Mas ele é tão longe, tão vago,
Que não vale um afago

Aceitar
Que, aceitemos ou não,
Certas trilhas em nada dão
Melhor, então, mudar a mão
O show não pode parar...

Allan - 24/09/08

Sussurro


A vida muda tanto, e tão rápido, que às vezes o dia amanhece, a gente levanta da cama e é como se, de repente, tudo estivesse diferente. Não foi o mundo que se transformou, nem o tempo que passou depressa demais. Fomos nós que deixamos passar alguma coisa, que não sabemos bem o que é, mas de que sentimos muita falta.

Por isso, é bom, de vez em quando, a gente olhar sem medo para dentro de nós mesmos e nos perguntarmos: está realmente tudo certo? É isso o que queremos para nossa vida? É pra isso que lutamos, que acordamos cedo, que engolimos tantos sapos, que deixamos o orgulho de lado?

Às vezes é bom abrir um pouco mais os olhos. Dá medo, sim, mas logo a gente acostuma. E descobre coisas. Descobre, por exemplo, que nunca vai ser simples, mas às vezes vale a pena estender um pouco o combate, para além de nossas usuais batalhas. Que o desconhecido não morde, porque também tem medo de você, que é igualmente uma incógnita para ele. Que as melhores coisas da vida são óbvias demais pra toda essa complexidade que a gente arma na cabeça, e talvez por isso não as enxerguemos.

Abra os olhos! Não pense pequeno, nem pense que as coisas são assim porque são. Às vezes, um pequeno gesto, ou então uma simples palavra que dizemos, define para sempre o destino de uma vida. Esta palavra pode ser sua.

Diga-a, antes que seja tarde. Antes que o tempo passe mais uma vez diante de nossa imobilidade. Diga-a, por favor, porque ninguém vai dizer por você, e porque a vida é curta e imprevisível demais para nos darmos ao luxo de esperar que as coisas aconteçam sozinhas...