quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Timidez


É comum encontrarmos, nas redes sociais, reclamações sobre as limitações exercidas pela sociedade em nossa liberdade. Desde padrões de beleza a disparidades econômicas, vários são os fatores que, de fato, estabelecem algum tipo de restrição sobre o livre florescer das identidades e expressões individuais.

No caso da pessoa tímida, entretanto, muitas vezes nem se chega a semelhante dilema: ela própria atenta contra a sua espontaneidade. Corta as asas de seus desejos, ideias, vontades, sonhos. Perde-se na imaginação e sofre quando é chamada de volta à realidade.

A dor não é somente no nível mental. Dá-se, também, no corpo. Tudo adoece, sem estar doente; esgota-se, sem estar cansado; paralisa, sem estar preso. Qualquer um que tenha passado por circunstâncias assim compreende a agonia de tais emoções. Acaba acostumando-se com elas, adaptando-se a esta forma parcial de viver.

São perdas terríveis, lamentadas por anos e anos, em muitas ocasiões. Ainda assim, há um fruto precioso que se extrai deste processo angustiante. Quem é tímido, com o tempo, percebe com mais nitidez a grandeza das pequenas vitórias. Aprende a dar mais valor a elas. Compreende melhor as pedras do caminho.

Talvez nunca as junte e forme um castelo, como diz uma frase bastante citada na Internet. Mas entende, aos poucos, que elas são apenas pedras, enquanto o caminho... Bem, o caminho, largo ou estreito, segue adiante, ansioso por revelar belas paisagens e novidades, a um olhar cada vez mais grato por estar em movimento.