segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Valsa


A valsa toca.

Tudo gira à música: planeta, ponteiros, telencéfalo, as rodas do carro que passa a toda velocidade, contradizendo a madrugada. Ainda as partículas, sub-partículas, tantos níveis mais na hierarquia da matéria.

Quem se importa se há uma reunião amanhã? Se um bater e fechar de portas, um subir e descer de escadas? Se, passado o carnaval, vêm as cinzas, a quaresma, o solstício de inverno, outra reunião? Se, una contingência, múltiplos desencontros?

A valsa parou. Canta, agora, a saudade. Uns olhos azuis em Peruíbe, que, na verdade, era o mar do Caribe, ou a balsa de Ilhabela, ou a origem das águas.

Ou, ainda, dessas mágoas de coração, que a gente já nem lembra de onde vieram e, de não lembrar, embrulham-se nas ondas e tornam à praia como esperança, lavando os pés de quem, humildemente, não desiste – e dança.