Não tenho experiência de vida, não tenho dados, não tenho
sabedoria.
À parte isso tudo, tenho um conselho: busque, dentro de si,
a tranquilidade. Faça dela seu bem mais precioso, sua carta poderosa, seu
horizonte tentador.
Procure-a porque, no mundo, há pessoas demais empenhadas no
contrário. Dedicadas à guerra, à cizânia, à busca desenfreada por ambições
materiais. Autores de discursos baratos, extremamente perniciosos, que incitam
o ser humano à hipertensa mania do choque e da cobiça. Criaturas que brincam
com seus peõezinhos de estimação, cegas por causas, indiferentes às
consequências.
Procure-a porque, na fé celeste ou ideal, há pastores demais
empenhados em vendê-la, quando você a tem aí, consigo, no seu âmago, pessoal
e intransferível.
Procure-a porque, não sendo arma de ferir, a tranquilidade é
o escudo impérvio contra a qual essas intenções não lograrão prosperar.
Procure-a porque, intranquilo, o coração não ama – reage,
encolerizado, a brutais expectativas. Não distingue – atende, doente, ao
chamado de sereias. Não cria – reproduz, pasteurizado, o que tanto quer ouvir.
Não sonha – exila-se, iludido, da verdade que o conturba.
Procure-a porque, ainda que o esquecimento seja um veneno,
que a lembrança seja o antídoto, fatal não é a substância, mas a proporção em
que se consome.