quarta-feira, 29 de julho de 2015

Tranquilidade


Não tenho experiência de vida, não tenho dados, não tenho sabedoria.
 
À parte isso tudo, tenho um conselho: busque, dentro de si, a tranquilidade. Faça dela seu bem mais precioso, sua carta poderosa, seu horizonte tentador.
 
Procure-a porque, no mundo, há pessoas demais empenhadas no contrário. Dedicadas à guerra, à cizânia, à busca desenfreada por ambições materiais. Autores de discursos baratos, extremamente perniciosos, que incitam o ser humano à hipertensa mania do choque e da cobiça. Criaturas que brincam com seus peõezinhos de estimação, cegas por causas, indiferentes às consequências.
 
Procure-a porque, na fé celeste ou ideal, há pastores demais empenhados em vendê-la, quando você a tem aí, consigo, no seu âmago, pessoal e intransferível.
 
Procure-a porque, não sendo arma de ferir, a tranquilidade é o escudo impérvio contra a qual essas intenções não lograrão prosperar.
 
Procure-a porque, intranquilo, o coração não ama – reage, encolerizado, a brutais expectativas. Não distingue – atende, doente, ao chamado de sereias. Não cria – reproduz, pasteurizado, o que tanto quer ouvir. Não sonha – exila-se, iludido, da verdade que o conturba.
 
Procure-a porque, ainda que o esquecimento seja um veneno, que a lembrança seja o antídoto, fatal não é a substância, mas a proporção em que se consome.