sábado, 28 de janeiro de 2017

Ídolos


Cada qual tem seus ídolos. Uns veneram religiões; outros adoram líderes políticos; outros, ainda, ciências, ideias, utopias. Nada mais natural que, dessas preferências, surjam afinidades, as quais cimentam o convívio e alimentam identidades e sentimentos.

Quando, no entanto, as afinidades viram cláusulas, pré-requisitos, senhas de sociedades secretas, o que se alimenta é nada além da palidez do próprio reflexo. O que se cimenta são réplicas bonitinhas, mas ordinárias, desses muros que grassam no mundo e ninguém quer erguidos.

Nestes tempos de muros, aliás, muito conviria que se olhasse, com a mesma severidade crítica que se faz às fronteiras dos países, também às próprias fronteiras. Ao teor de barro presente em todo ídolo. Às segregações que não se fazem com o decreto de um louco, mas com palavras de efeito, moralismos disfarçados, tiranias cheias de amor.

Entre todo o repertório de novidades cabíveis na existência humana, o que vale para um, vale para todos. Isso não muda. Não tem como mudar. De modo que o idealista pode ser mesquinho, o virtuoso pode ser devasso, o sonhador pode trair quem ama. A ajuda que salva uma vida pode vir de quem jamais se esperaria.

Fechar-se para tamanha riqueza de possibilidades por causa de ídolos é uma opção válida, claro. Mas pobre. Rasa. Infame.

É podar não a árvore que ameaça cair, mas a semente que ameaça germinar.