Quem dança, ainda que não profissionalmente, sabe que o gesto não surge por acaso. Requer horas de exaustiva repetição, tediosos retoques em ensaios gerais - interrompidos a cada momento para broncas e correções - descoberta individual e coletiva de cada novo passo ousado. Sem falar, claro, no cuidado diuturno com o corpo, que abrange desde uma alimentação equilibrada a aulas de condicionamento das mais variadas.
Todo este processo, pr si árduo e laborioso, depende ainda de um componente fundamental: a concentração. Não há dançarino de verdade que não tenha um alto grau de concentração desenvolvido. Somente assim é que um giro se torna alegoria do tempo, do universo, da deliciosa e penosa inconstância da vida. Somente assim, a luz de uma idéia brilhante reproduz-se no músculo apoteótico. Somente assim, o corpo em movimento ganha o palco e convence, a si e a platéia, que a verdade está com ele, nada mais importa, nada mais existe.
Somente assim, a alma da dança se liberta e atravessa a porteira do impossível, trazendo à cena viva um mundo incrivelmente belo, puro, mágico, espelho do coração artista de cada ser amante que carrega uma esperança em seu cantinho mais especial...