sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Mãos e pés


As mãos esperam, pacientemente, sua vez de lançar os dados. Os pés chutam os pinos, sapateiam sobre as regras, pisam no tabuleiro.

As mãos escrevem bobagens. Os pés cruzam fronteiras, conquistam territórios.

As mãos acenam, no cais, a impotente nostalgia. Os pés deixam pegadas, abrem caminhos.

No jogo humano, mesmo quando tais caminhos conduzem ao abismo, os pés são saudados como heróis. Ao passo que as mãos, mesmo as pertencentes aos irmãos, mãos que assinam perdão e até se algemam para que outras sejam livres, acabam esquecidas. 

E assim é a vida, ou as vidas, ou ávidas por demais as expectativas sobre o que, como bem dito, não passa de um jogo bobo (e algo cruel).