quarta-feira, 25 de setembro de 2019

11 anos


Onze anos depois, percebo que um dos motivos de ter começado este blog, no momento em que comecei a dar mais e mais importância à palavra escrita, era ter uma espécie de vitrine àquilo tudo que tinha vontade de expressar e não conseguia.

Não sabia, na época, que ia ter a chance de lançar dois livros, escrever outros tantos, enviar centenas de cartas e cartões a pessoas próximas. Contar, enfim, com uma produção, se não brilhante, ao menos consistente e copiosa, abrindo-me uma série de outros canais de manifestação comunicativa.

Tenho algum orgulho e bastante felicidade por saber que as minhas palavras fizeram pessoas rirem, chorarem de emoção, lembrarem de tempos gratos, projetarem realizações, até se apaixonarem. Mais que isso, um sentimento de missão cumprida pelo fato de não usá-las à toa, não mentir com elas, dar o meu máximo para que digam, sugiram e suscitem coisas boas a quem as leia. Não pretendo a beatificação por isso, é lógico, mas não veria, honestamente, sentido em escrever com outro propósito. É um objetivo de vida que levo a sério, mesmo não sendo algo tão compreensível fora da minha própria cabeça.

Pois bem, onze anos depois, vejo também que muitas das imagens que eu ansiava transformar em palavras simplesmente não encontraram a devida tradução. Luto, dia após dia, para exibi-las, explicá-las, decliná-las, mas em vão. Talvez porque certas estradas existam apenas longe do chão em que pisamos. Talvez porque assim seja, sem maiores porquês.

Por que razão, então, isso é tão importante para mim? Por que gasto uma energia imensa tentando, quando me bastaria aceitar o fato de que certas instâncias da vida são incomunicáveis? Por que vasculho até a última linha do dicionário, em busca dessa palavra que não poderia, mesmo se perfeita, definir o que eu gostaria de mostrar às pessoas que me cercam?

Sinceramente, não sei. Nem mesmo sei se quero saber, ou se existe alguém no mundo que vá, um dia, entender o motivo. 

O que sei é que muito do que sou, devo a esta impossível omissão.