quinta-feira, 25 de junho de 2015

Certeza

 
Quando houver uma certeza, pense que é um pouco mais difícil do que parece.
 
Porque, normalmente, é, e um pensamento não costuma fazer mal antes de uma ação.
 
Na ciência, por exemplo. Quantas teorias diariamente não se refazem, derrubadas por evidências que, amanhã, tornar-se-ão um capricho defasado? Quantas inovações não se fazem clássicos uma velha manhã? Eruditos a que se deve não mais que condescendente respeito e um cheque, mormente magro, de aposentadoria?
 
Na política, então! Quantas vezes não se assume lutar pela mais nobre das causas, quando, na verdade, tudo não passa de um truque de ilusionismo? Jogo de cena de velhas raposas ateias, capazes de enganar Deus e o Diabo com seus compromissos, bandeiras, coalizões? Quantas ocasiões não se crê estar na vanguarda quando o mundo, imperceptível, cambiou de eixo? Quanto não se faz, de cada indivíduo valente, cordeiro desavisado?
 
São auroras raras, flores de montanha. Incessantes, quiçá infinitos processos de decantação. Daí que, havendo uma certeza, pense que é um pouco mais difícil do que parece. Mesmo os lugares mais comuns, os sensos melhores, as palavras mais populares. Tudo tem uma raiz, uma seiva, um caminho, alheios a nosso saber e a nossa vontade, limitados que estes são no tempo e na inteligência.
 
Pense, se possível, com o sentimento. O seu e, especialmente, o dos outros. Faça, aliás, dos sentimentos dos outros um critério seu. Se não puder sempre, faça-o às vezes. Dentro do possível. Uma vez ao ano. Só não renuncie a isso. A este pequeno evangelho humano que talvez seja a única, possível e gratuita convicção que se nos dá.
 

domingo, 7 de junho de 2015

Ainda bem


Existem coisas que o dinheiro não compra, e certamente não estão em comerciais de cartão de crédito.

Existem coisas que me fazem feliz, e certamente não estão em comerciais de supermercado.

Existem sorrisos divinos. Nunca os vi na fila do banco.

Existem momentos inesquecíveis. Nunca os passei na loja de uma operadora de celular.

Nas ruas, radar.

Ainda bem que, nas luas, luar,
ou o que ia nos salvar?