sábado, 9 de maio de 2020

Vitorioso


Há uma tendência algo natural de pensar em tudo que se perde: as chances, as épocas de ouro, o tempo. Muitas dessas perdas não se superam, passam a morar dentro da gente, espécie de inquilino caloteiro que grita com os vizinhos e perturba a paz do condomínio.

Muitas vezes, muitas mesmo, pergunto-me se há algum sentido nisso tudo. Se a vida não seria melhor com uma política de tolerância zero para com devedores e arruaceiros. Se não valeria mais a pena ser pragmático e viver ao pé da letra.

Então, olho para o céu, para as cores, para a sua despreocupada transitoriedade. Toda a imensidão do que não entendo e nunca saberei.

Olho e, no fundo impossível deste doce alheamento, coberto do entulho de ruínas gloriosas, pois que verdadeiramente amadas e zeladas, considero-me vitorioso.