sábado, 25 de janeiro de 2014

São Paulo

 
Uma cidade não é uma circunscrição territorial, mas uma teia de relações. O vértice do melhor e do pior de cada um de seus habitantes.
 
Assim é São Paulo. Injusta, muitas vezes; injustiçada, outras tantas. Excludente, por uma face; magnética, por outra. Espoliada, no mais apurado espírito democrático, por raposas de todas as felpas - dos velhos e novos tempos, dos olhos ferinos e doces, do tipo malvada e legalzinha. Aérea na frota mirabolante de helicópteros; submersa nos repetidos verões (apesar das obras, todo ano, prestes a começar). Cinza somente nos olhos de quem a chama já se consumiu.
 
A mais brasileira e, ironicamente, a menos brasileira.
 
São Paulo que não cabe nas categorias em que a querem aprisionar. Não cabe porque a sua São Paulo é diferente da São Paulo do seu vizinho, que você cumprimenta ou não nas manhãs ansiosas de São Paulo, de céu tão azul quando chove, que faz crer que as estrelas voltarão a ser vistas na noite iminente de São Paulo.
 
São Paulo, gigante triste, forte como um touro indomável, vulnerável como esse mesmo touro, cego de fúria. Afetada, azafamada, atarantada, frenético ritmo e... Olha, lá fora, a garoa! Gente dura, que não para, só olha pro chão e... Um milhão, espera, dois, não, quatro... Onze!
 
Onze milhões de gentes. Todos carrancudos? Todos ensimesmados? Todos grosseiros? Ou apenas mais fácil explicar assim, enchendo um balde no tanque e julgando-lhe a água como o mar?
 
São Paulo por um fio. Quilômetros de fios. Pedacinho irrisório de chão neste planeta imenso. A calçada do quarteirão em que moro. Os buracos que me traem o caminho. Os pássaros revolucionários.
 
São Paulo e a falta, a sobra, a hora em que uma, à outra, cobra.