quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Cores




















Numa esquina
paragem sossegada
e cristalina

Pode-se achar a beleza
ofuscante de uma vida
recém-florida

Profusão de cores
desfazendo as dores
das mudas interrompidas

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Estrada


Para os que me gostam, os que me odeiam, os que receiam gostar ou odiar.

Para o sabiá que canta lá fora, que alguns saúdam, pela saudade, e outros desejam ver cozido na panela.

Para os que estão sonhando com bolhas, fitas, aragens, cometas, véus de seda cor-de-laranja. Os que sonham com quem não pode mais despertar.

Para os que estão trabalhando em algum relatório, fazendo ronda, atendendo telefones, driblando os abusos do fuso horário.

Para os que assam pão, os que vagam na rua, os que dormem na rua, os que vivem na lua, os que passam frio, os que chutam o cobertor.

Para os que resistem a olhar para o que querem, por medo de ver o que não querem.

Para os que estupidamente arremetem contra a única viga que não cedeu.

Para aquela menina que não me ligou mais.

Para os pais, os filhos, os netos, o avô que ontem fez aniversário.

Para o súdito, o sultão, o mágico, o ermitão.

Para o rapaz que dirige a perua de onde acabam de lançar o jornal.

Para quem acaba de nascer, quem acaba de partir, no hospital.

Para todos, a estrada é longa e incerta, como o brilho de uma estrela.

Cumpre-nos percorrê-la.