segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Moda


Virou moda ter que ser feliz. E assim, a procura por ser feliz torna-se de tal modo frenética, de tal modo obsessiva, que felicidade de verdade vira logotipo. Maná dos manuais de auto-ajuda, que ajudam, decididamente, mas não resolvem a vida de ninguém.

Virou moda ter de viver grandes paixões a todo instante. E assim, as pessoas se esquecem de que as telas do computador não têm sentimentos, tampouco se motivam pela dança dos hormônios. Não é em sites de relacionamento que se encontra o grande amor. Até acontece, mas não é porque um macaco aprende a acender um fogão que todo babuíno é mestre-cuca em bistrô francês.

Virou moda "ter mais é que se jogar". E assim, as pessoas não lembram que, no bungee-jump, existe uma cordinha presa aos pés, que é justamente para impedir que as tripas voem pelos ares ante o impacto fatal. A queda gera adrenalina por alguns segundos e gasolina para a lembrança, mas não pode durar para sempre. Nem questão de moral, mas fisiologia pura. O organismo não agüenta.

Virou moda muita coisa neste início de século. E assim, o que era para ser o signo da liberdade, o marco da vitória contra a cruel tirania da história, vai virando engodo. Cada vez mais cativos e senhores, oprimidos e opressores, vítimas e carrascos tão antigos quanto o mundo, cavando um abismo profundo do qual não vai ser fácil escapar.

Ainda é tempo de mudar?

2 comentários:

Anônimo disse...

Pois é!
Virou moda mesmo ser feliz a qualquer custo. Se atirar, sem culpas, sem medos...
Não importam as consequências, as responsabilidades.
O que interessa é viver com toda adrenalina como se fosse o último dia...
Nestes dias de "custe o que custar", me dá uma nostalgia dos bons tempos da simplicidade...

Lindo texto Allan!!!!!
Beijos!
Margareth

Valéria disse...

Olha, demorou para eu mudar meu pensamento. Hoje em dia não tenho mais ilusões.
Esse texto, só reforça...