domingo, 1 de abril de 2012

Primeiro de abril


"Puseram no lugar
os pés do Curupira,
verdade?
Mentira..."

É primeiro de abril.

Dia de acreditar que o barco que regressa é o mesmo que partiu. De crer que as palavras dizem o que o dicionário diz que elas deviam dizer. De sonhar com geometrias que não cabem no papel, com estrelas que pingam do céu e embriagam os transeuntes. De imaginar a dança no papel das guerras, professores no lugar de carcereiros, o apito do árbitro no estalo dos fuzis. De direitos civis finalmente consumados à exaustão, sem prejuízo de nexo, cancro, dor ou cruz. De tuiuiús voando despreocupados na imensidão do seu Pantanal, livres de algemas de ferro e de controle social. De almejar, sem medo do herético ou o ridículo, o que bem nos aprouver. De ser branco, preto, alto, baixo, bárbaro, douto, homem, mulher, Margarida ou o que der na telha. De o que o vidro espelha ser tão puro e delicado quanto a imagem cristalina que o coração divisa. De a brisa confusa da paz soprar com ganas de furacão, até longe, inofensivo, o último adeus da solidão...

Mourão, deviam baixar uma medida provisória proibindo o primeiro de abril.
Já proíbem tanta coisa, que uma a mais, uma a menos, o povo nem se dava conta.
E em vez de cantarolar como a moda ali de cima, sem perda de efeito ruminariam:

"Deixaram sem mudar
os pés do Curupira,
verdade?
Mentira..."

Ai, que inveja absurda ostento dessa gente que delira!

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