sexta-feira, 22 de março de 2013

Atos


Atos possuem valor intrínseco. Esta lição aprendi e aprendo em etapas. Em casa, nas casas ligadas à casa, com amigos mais próximos e mais distantes, colegas de ontem e hoje, professores oficiais ou não. Pela obra de cineastas, escritores, atletas, confeiteiros. Gente com quem divido um banco, uma fila, um vagão. Pessoas cuja história não conheço e não saberei, a quem cedo a vez ou de quem ganho a gentileza.
 
Podem não gerar dividendo material algum. Podem-se dissipar nos ruídos mais viris que a cidade verbaliza. Podem significar poeira na extensão absurda dos domínios cósmicos. Podem apontar norte para uns, sul para outros, o umbigo para muitos. Podem despertar assombros ou bocejos.
 
Podem muitas coisas, menos renegar a si próprios. Menos tocar neste núcleo, sagrado e inviolável, coração de cada gesto. Pois os atos, mais que as palavras (que são atos mascarados, continuamente em cena, representando teogonias), tem valor intrínseco. Algo que transcende bem, mal, meu, seu. Algo mais concreto, aliás, que moral e propriedade. Algo que é da natureza, que comunga de sua simplicidade e resume seu proceder, que pulsa na terra e recende no ar.
 
Colar de estrelas a fulgir no colo da noite baça.
 

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