terça-feira, 17 de setembro de 2013

Lago

 
Foi o mais perto que chegou. Era um lago o amor, a perder de vista, soberano esplendor. Viu-lhe o reflexo nas águas, viu dissipadas as mágoas e os temores. Tocou o futuro, cristalino e calmo, repleto de vida. Teve, nos dedos, a pepita pura. Confirmou-se naquele olhar risonho, olhar de sonho, naqueles cabelos que se trançavam por trás das costas, como uma segunda medula.
 
Mas que, às vezes, mesmo a mais bela quimera capitula.
 
Veio o inverno e, com ele, o frio eterno. Congelou-se o lago, cristalizou-se o reflexo, petrificou-se a vida. Presa ficou a pepita na neve, o ouro já sem valor, impedido de brilhar.
 
O olhar continua risonho, mas um pesadelo vê-lo agora, lembrando-lhe aquelas águas que gostaria de esquecer. Aquelas águas sobre as quais pisa, pula, dança, águas que golpeia com violência e, também, receio, à espera de que se quebrem as placas de gelo, restabeleça-se o lago na planície branca.
 
Águas nas quais, decerto, a trança desmancharia já no primeiro mergulho, o que pouco importaria, a segunda medula já não seria feita de cabelos nem de vértebras, seria um sol capaz de muito mais luz e calor que este que conhecemos.
 

Nenhum comentário: