sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Virginiano

 
O virginiano é alguém muito paciente. Demais. Irritantemente, dir-se-ia. Um grande ator, deveras, escutando a mesma ladainha pela milésima vez e acusando surpresa, fingindo acreditar na sinceridade de mais uma procissão dos erros.
 
O virginiano é também muito sábio, muito correto, muito ditoso, muito bonito. Capaz de mesclar, em surpreendente profusão de tato e galhardia, o impulso que acicata e a sensatez que conjetura, o fascínio que deslumbra e o juízo que modera. Não fosse a grave falha de se subestimar, o triste pecado de firmar os pés no solo da modéstia, seria perfeito. Valha-me a licença poética das épocas verbais: perfeito, não. Mais-que-perfeito!
 
Apontado injustamente como sujeito inclinado aos cálculos, o virginiano na verdade é uma vítima deles: isolado e ignoto como as variáveis, jogado ora a um lado, ora a outro da equação. Uma letra prisioneira dos números que os humanos tanto gostam de acumular.
 
Entre leão e libra, o virginiano chega a ser um herói nesta sumária, destrambelhada biografia. Herói porque lhe falta vilão, e quão mais difícil faz-se o heroísmo sendo assim. Herói porque, no fim, o leão rugiu, a libra pesou, ou o leão calou, a libra voou, tanto faz. Não acredito em horóscopos mesmo.
 

Nenhum comentário: