sábado, 27 de julho de 2019

Sábado, 27 de julho


Alguns fenômenos atravessam o tempo e, diria mais, atravessam as portas entre as dimensões. Fazem do real um sonho e, dos sonhos, não exatamente a realidade, mas a verdade, toda ela, singela e delicada como um café saído da máquina.

Poderia, por isso, ir dormir, curtir a espera aleatória pela repetição do enredo onírico. Não o faço. Bato com os pés no chão e não me arrependo, pois me vendo no espelho sei que não sou o mesmo, que a própria estrada já foi recapeada não sei quantas vezes e as ondas que vêm do sol já não provêm da fusão dos mesmos átomos, ainda que o processo seja idêntico, os elementos não se alterem, a chama seja vetusta.

Não vou e não preciso. Dentro de mim o sonho não cede, ele é maior que eu há muito tempo, eu sou um veleiro no seu oceano, brigando com o vento e o amando por me levar, por me vibrar, por me mover. Por que há de ser outro o legado de um sonho, se navegar é o que sempre fizemos e desejamos, o que nos fez rir e chorar?

E, no encontro das águas, ...?

Durma bem, querido mar!
Sonhe lindo, acorde indo
E vindo, voando, visando
À grandeza que rebrilha
Transparente em seu olhar

Mesmo a oitocentos metros de altura
E uns bons anos de lonjura
No horizonte de ternura
Em que a vida se depura
Hei de as ondas encontrar.

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