segunda-feira, 13 de junho de 2016

Discurso

 
Às vezes a gente começa a semana como quem termina um ano. Um ano não, um ano-luz.
 
O que é natural no ritmo dos enganos, pois enquanto um corpo resiste a sair do cobertor, uma alma não resistiu e desertou do corpo congelado lá na rua, doente do frio, da esquerda, da direita, da opinião e seu oposto, do porre de algum desgosto. Uma alma que, tudo indica, serve melhor à sociedade e seus cabeças agora que é penada.
 
O que não é natural, pois enquanto juram que você é feliz, na verdade o trem está a um palmo de descarrilar, e enquanto a face parece abatida, o peito está a exultar, e enquanto o mundo pensa entender, na verdade ninguém sabe é nada.
 
E porque, abracadabra, enquanto tudo que lhe falta, tudo quanto anseia, é ser o mais simples dos homens, enrola-se a língua, contorcem-se os membros, secretam-se gosmas, triunfa nos campos o epilético vulto do discurso.
 

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