segunda-feira, 6 de junho de 2016

Segunda-feira

 
Todos os planos de grandes mudanças que fiz para começar nas segundas-feiras falharam brilhantemente. Os poucos que, de fato, se iniciaram, tiveram uma vida média de 3 dias, aproximadamente, prazo a partir do qual se espreguiçaram e voltaram ao sono profundo de onde surgiram.

Mesmo com tantos dados pessimistas em mãos, quase todo domingo à noite, não tem jeito: já começa de novo a tentação. Um impulso que corre a coluna, cora o rosto, faz esfregar as mãos. Vou fazer isso, vou fazer aquilo, nada será como dantes. Ajustes, reformas, revoluções. Admirável mundo novo.

E a segunda chega, lentamente, com seus passinhos irônicos de dança, o sorriso irrevogável, as vértebras de pedra, a marreta solene a derrubar, insensível, os princípios da construção.

Diante de tal panorama, alguém poderia questionar, com toda a justiça e perspicácia: por que insistir no que a própria estatística já provou consistir em erro? Sinceramente, não sei responder.

O que sei, com alguma reserva de convicção, é que, apesar de tudo, um esforço nunca é em vão. Por mínimos os frutos palpáveis, cada ideia de mudança já compreende uma mudança. Cada plano que consegue ir adiante, ainda que por poucas horas, já traduz uma iniciativa. Consequentemente, cada domingo de tentação é um reconhecimento implícito de que há o que fazer e como fazer, o que, por si só, constitui uma celebração das potencialidades da vida.

Deu resultado? Que bom! Não deu resultado? Que bom também! A incerteza é uma das poucas provas do livre arbítrio, um dos muitos mistérios que atiçam a inteligência e tocam o coração.

Aliás, tocou!
  

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