sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Manancial


Quando a represália se espalha
nas áleas da convivência

Quando o silêncio assusta
mais que a sentença injusta

Quando se verte ironia
na ordem do dia

É uma pena.

Uma cena que não deveria ser escrita por ninguém.

Fomos, um dia, manancial farto de amor. Quase de tudo dava nossa fonte. Quase de tudo. E o pouco que não dava, não fazia falta, pois éramos felizes com o que tínhamos. Éramos felizes com o que éramos, com o que poderíamos ser.

A água, porém, deu de jorrar turva. Virou lodo. Barro. Escarro, escárnio, esgoto de bocas que perderam o dom do gosto. Aposto sem frase. Posto sem base. Fase sem fim.

Em mim, sensação de um chão que se condensa enquanto corro.
De mim, morro que virou colina, chama que virou melancólica gota
de parafina.

Gota, gota, gota.

Último fio pulsa, pende, se desprende.

Gota.

Orgulhoso manancial que fomos. Bons tempos que ficaram para trás da cortina de ferro. Berro e ninguém ouve. Talvez não seja para ouvir, nem para gritar. Falta-me ar nas cordas. Nas cordas... Por que tão cedo foste expirar, manancial? Por que não jorraste um pouco mais? Ainda tenho sede, tanta que não imaginas.

Orgulhoso manancial.
Sarcasticamente, fonte seca.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gota a gota, são as lágrimas que me caem dos olhos neste momento.
Sem palavras...
Margareth