domingo, 3 de janeiro de 2016

2016

 
Nenhum ano é ruim para uma vida como a minha. Qualquer conclusão diferente seria não apenas um pecado, como um desrespeito para com quem me criou, quem me cerca, quem me quer bem. Um atestado de alienação em relação à miséria que campeia no mundo e em meu país.
 
Dito o principal, que é a consciência do privilégio, há os ciclos melhores, os piores, os mais ajustados, os destrambelhados, os esquisitos. Posso dizer que a última categoria abraçaria calorosamente 2015: um ano, entr...e muitas outras coisas, esquisito. Ao qual, porém, devo meus tributos extras, além dos já mencionados, por importantes realizações e oportunidades pessoais que tive em seu decorrer. Elas podem parecer pequenas, por determinados critérios; simplórias, para indeterminados olhos; nunca para mim.
 
Se 2016, qualquer o adjetivo que a ele se afeiçoe em seu final, tiver a singeleza do amor, já terá sido inesquecível. Se nele não faltar saúde, já terá sido abençoado. Se nele pairar um pouco de justa paz, já terá sido um tempo ganho. Com a implícita redundância da expressão, que tempo nenhum é perdido quando a escala é o coração de quem o mede.
 
Mais, no entanto, que saudar 2016, ano em que completo 30 e em que, coincidentemente, uma série de marcos importantes da minha vida assinalam a sua primeira década, cumpre-me este resgate insólito, todavia necessário, de louvar a beleza e poesia do que passou. Os felizes anos velhos, sem os quais não haveria estas palavras e este desejo por um próspero recomeço.
 
Os anos de meus antepassados, de meus bisavós e avós, tanto os que me conheceram quanto aqueles com quem não pude conviver. Os anos de parentes, amigos, vizinhos, professores e outras pessoas queridas que já não estão mais entre nós. Os anos de brinquedos, de passeios, de uma aurora que se prometia a mim com infalível convicção e que agora, tio, prometo-a, instintivamente, a minhas sobrinhas, sem saber se, de fato, ela existe. Os anos de chuva na janela, rosa na lapela, bilhetes de bom dia, pai-nosso, ave-maria. Os anos de gatos no telhado, taças na cristaleira, futebol de terra, jogo da memória. Os anos de milk-shake em copos com cobertura.
 
Impressiona como cabe, em um piscar de olhos, tudo o que os encantou.
 
Como cabe e como passa!
 
Feliz 2016!
 
Allan
 
31/12/15
 

Nenhum comentário: