sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Penélope


Ontem tive um sonho e hoje passei o dia pensando nele.

Agora que é madrugada, comecei a me perguntar por quê. Não de pensar no sonho, nem de tê-lo, assim, com recorrência, mas dos processos todos pelos quais a minha mente não se cansa de tecer e desmanchar este xale, tal qual uma Penélope, à espera do regresso do herói da odisseia.

Já fui duro demais comigo, tanto quanto fui ingênuo em muitas Troias da minha vida, acreditando em qualquer honra que devesse nortear as batalhas pelo mar. Feri-me por causa disso, rolei pela terra devastada, soçobrei em poças de chuva, irritei deuses e humanos.

Mas voltei.

E, hoje, percebo que não era bem a honra o que me importava. Não era, nem mesmo, glória, riqueza, guerra. 

Era a lealdade. 

Derrota, para mim, não é verter sangue, ser escarrado, passar para a história como um destroço do naufrágio. É trair aquela versão melhor do passado, que acreditava na virtude, que enxergava algo mais que o cinismo das partes litigantes. É esquecer como tudo começou. É transformar esta íngreme, mas tão bela travessia, nos meros passos de um bêbado.

Portanto, sonhe, Penélope! Sonhe, que a vida, ela também, é um coser interminável!

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